A Folha de São Paulo, em sua matéria “Estabilidade de servidores no Brasil chega a 65% do total; na Suécia, a 1%”, demonstra uma desonestidade intelectual e um interesse escuso ao comparar a estabilidade no serviço público do Brasil e da Suécia sem considerar o contexto sociopolítico e econômico profundamente distinto entre os dois países. A quem serve, de fato, esse tipo de jornalismo tendencioso?
A estabilidade dos servidores públicos no Brasil, tão criticada pela Folha, é justamente o que garante a imparcialidade e a continuidade dos serviços essenciais à população. É a estabilidade que protege os servidores de pressões políticas e permite que exerçam suas funções com independência. É ela que assegura que políticos corruptos não possam, por exemplo, entrar com joias clandestinamente no país sem serem investigados. É a estabilidade que possibilita que donos de jornais e famílias que controlam as mídias sejam investigados e, se necessário, enfrentem o banco dos réus. Sem a estabilidade, estaríamos à mercê dos interesses privados e das vontades políticas momentâneas.
A comparação simplista com a Suécia ignora diferenças cruciais. Na Suécia, o sistema de tributação sobre rendimentos e heranças é mais simplificado, o que facilita a arrecadação e a fiscalização. A alíquota padrão sobre rendimentos de capital, incluindo dividendos e lucros de ações, é de 30%, enquanto no Brasil é zero. Isso significa que, na Suécia, os ricos contribuem de forma mais justa para o bem comum, enquanto no Brasil, a carga tributária recai majoritariamente sobre a classe média e os mais pobres.
A diferença na sonegação de impostos também é gritante. No Brasil, a sonegação representa cerca de 39% da economia informal, equivalente a aproximadamente 13,4% do PIB. Na Suécia, a sonegação é estimada entre 4% e 6% do PIB, uma das menores taxas da Europa. Isso se deve, em parte, à cultura de cumprimento voluntário dos suecos, mas também à rigorosa fiscalização e às severas penalidades para quem sonega, incluindo penas de prisão. No Brasil, a impunidade é a regra.
A Folha ignora esses fatos e prefere pintar um quadro distorcido da realidade, atacando a estabilidade dos servidores públicos como se fosse a causa dos problemas do Brasil. Na verdade, a estabilidade é um dos poucos mecanismos que ainda protegem o país dos desmandos daqueles que se preocupam apenas com seus próprios bolsos. Na Suécia, jornais que deveriam informar não se tornam armas contra a verdadeira informação e não se deixam usar por grupos econômicos que não pensam na população do país e somente em seus bolsos. A Folha deveria aprender com o exemplo sueco e exercer seu papel de informar com responsabilidade e imparcialidade, em vez de servir a interesses obscuros.
A Folha deveria aprender com o exemplo sueco e exercer seu papel de informar com responsabilidade e imparcialidade, em vez de servir a interesses obscuros. Comparar a estabilidade no serviço público do Brasil e da Suécia sem levar em conta as profundas diferenças socioeconômicas e culturais é tão desonesto intelectualmente quanto afirmar que a população sueca é muito mais bem informada que a brasileira simplesmente porque lá existem o Dagens Nyheter (DN), o Svenska Dagbladet (SvD) e o Aftonbladet, enquanto aqui temos a Folha de São Paulo. A qualidade da informação não se resume à existência de veículos de comunicação, mas sim à sua conduta ética, à sua independência e ao seu compromisso com a verdade.