Em meio à crise pandêmica deflagrada pela COVID-19 e à persistentemente elevada taxa de contaminação da população, a assembleia dos servidores do Judiciário de São Paulo deliberou pela greve sanitária como resposta não simplesmente à retomada dos trabalhos presenciais nos fóruns, mas às precárias e periclitantes condições de trabalho, historicamente conhecidas, e agora maximizadas pelos riscos elevados de contágio do novo coronavírus.
A medida em questão foi determinada menos por um sentimento de classe, e mais pela defesa do direito à vida e à saúde. Este, que deveria interpelar a todo o conjunto da sociedade na atual crise sanitária e perante a constatação de mais de 81 mil mortos só no Brasil, vê-se eclipsado por uma assustadora onda negacionista da ciência, dos alertas epidemiológicos globais, e das orientações das autoridades de saúde. Ao lado de preconceitos quanto aos fundamentos do serviço público (que insuflam ataques ao funcionalismo, já precarizado pelo mesmo poder público que deveria promovê-lo, e hostilizado pela mesma sociedade a quem ele serve), a justa e legal chamada para a greve tem sido alvo de ofensivas manifestações contra toda a classe trabalhadora.
Foi o caso de postagem da advogada Renata Girotto, de 26 de julho de 2020, queixosa do que entende ser uma expressão de superioridade dos serventuários da justiça ao defenderem o regime de teletrabalho, modelo de organização do serviço que têm permitido manter as prestações do Judiciário à sociedade (com o uso de recursos pessoais dos servidores, inclusive). Contraditória, pede empatia enquanto classifica a função pública de “merda" (sic) e defende extinção de cargos.
Cravamos nosso mais alto e grave repúdio a uma manifestação ensimesmada e de empobrecida visão de trabalho e sociedade, baseada na concepção de mercado, oferta e demanda, que não guarda relação com a forma como as políticas e o serviços públicos devem se organizar para responder ao interesse público – e não a categorias profissionais isoladas.
As entidades representativas dos servidores do Judiciário de São Paulo reafirmam sua luta pela civilizatória defesa da vida e da saúde pública – de todos, e defendem que as divergências sejam tratadas sob formas democráticas e respeitosas.
Se temos ódio é pelos processos geradores e mantenedores de desigualdades, e de tudo o que afronta a dignidade da classe trabalhadora, e que avilta a Democracia.